quarta-feira, 2 de setembro de 2015

OPINIÃO: Os árbitros precisam do direito de dizer 'não sei'

(Foto: Divulgação)
(Foto: Divulgação)

Quando o árbitro Luiz Flávio de Oliveira assinalou um pênalti a favor do Corinthians, na partida contra o Sport, o clube rubro-negro foi à loucura. Jogadores e torcida reclamaram, a ponto do presidente Martorelli ameaçar processar o juiz em pessoa, ignorando até mesmo o fato de diversos especialistas apontarem acerto do árbitro na marcação.
O que é difícil de aceitar para a maior parte das pessoas é que, a despeito de nossos desejos mais íntimos, o mundo não é regido por grandes conspirações da Nova Ordem Mundial. Globo, Coca-Cola, os Iluminatti e o Foro de São Paulo se uniram para ajudar o Corinthians, é claro. O árbitro – todos, porque, como os políticos, nenhum presta e são todos a mesma pessoa – é uma máquina de interesses corporativos que se vende pra qualquer time de massa, e não um ser-humano fazendo jornada dupla e tentando tirar um trocado a mais pra complementar a renda.
A ideia aqui não é absolver os árbitros. Nossa arbitragem erra bastante e prejudica o desenvolvimento da prática esportiva enquanto competição. Fato consumado, pouco há o que discutir aqui. O ponto é a quantidade de poder (e, como o tio do Homem-Aranha nos ensinou, da responsabilidade que lhe acompanha) dada a uma figura tão pequena e tão suscetível a erros.
As regras do futebol, em uma situação hipotética, permitem que um juiz seja acometido por um acesso de loucura e saia expulsando atletas aleatoriamente do campo. A contestação vem depois, num tribunal desportivo, após os noventa minutos. Todos os dias, árbitros pelo Brasil precisam tomar decisões binárias (porque ou estava impedidoou não estava impedido, sem meios-termos) praticamente irrevogáveis em milésimos de segundos sem apego a auxílios ou erros. Mas e se aquele cara de amarelo ganhasse o direito de simplesmente admitir que não viu direito e de que não tem certeza?
O uso da tecnologia no futebol não é uma opção; é uma urgência. Hoje, para manter seu bico (porque, lembremos, nem emprego é), um árbitro precisa fingir que viu tudo o que foi feito no gramado e que estava em cima de todos os lances. Dessa forma, erros e acertos reduzem-se a um cara-e-coroa: 50% de chances para acertar, 50% para errar. E aí, no desespero, entram em cena quaisquer fatores externos que podem auxiliar o árbitro a tornar esse chute mais preciso: pressão da torcida (e aí nasce o juiz caseiro), pressão dos atletas (no popular, ganha-se a jogada no grito) ou simplesmente o tamanho dos clubes envolvidos na polêmica.
Pedir ajuda é um fluxo normal em praticamente todas as profissões do mercado de trabalho. Por que só o árbitro não pode?

Paulo Lira com Andrey Raychtock 
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